DEFEITOS 02/02

Verificamos, no entanto, que o nosso "querer", principalmente no terreno, dos ideais transformadores, quase sempre não passa de impulsos fugazes, passageiros, fracos e indecisos. Diante dos primeiros impedimentos, que são importantes testes para pormos em prova a nossa vontade, abandonamos a luta, largamos aquela ferramenta e caímos nos mesmos erros. Mas a queda está no início do aprendizado de qualquer um. Comparando-se a base de apoio dos seres humanos, bípedes, com a dos animais, quadrúpedes, vemos que, ao nos tornarmos eretos, humanos e racionais, a insegurança, até mesmo do equilíbrio físico, é uma condição própria do homem.


O homem cai quando começa a andar, quando ensaia os primeiros passos ao erguer-se sobre si mesmo, evoluindo da fase do engatinhar, imitação do quadrúpede, com pouca mobilidade e relativo domínio de si mesmo. O nosso processo de transformação progressiva é igualmente semelhante. Quando nos dispomos a ser melhores e a crescer espiritualmente, precisamos contar com as quedas, pois elas são parte da nossa experiência.

São elas que nos fortalecem a vontade, ensinando-nos a ter "persistência". São as quedas responsáveis pela continuidade da luta por realizar algo. Somos aquilo que realizamos e não o que apenas prometemos realizar. E é imprescindível, para nossa firmeza e segurança, aprender a cair, saber os riscos e perigos que corremos, conhecer as ameaças ao nosso equilíbrio, conviver conscientemente com aquilo que pode nos derrubar, pois, desse modo, tornamo-nos capazes de nos afastar de áreas movediças.

Somos, ainda, biologicamente frágeis e espiritualmente imperfeitos. Somos todos aspirantes ao equilíbrio, e o conhecimento é o meio de atingirmos nosso objetivo. Pedro de Camargo (Vinícius), em seu livro O Mestre na Educação, nos mostra, no capítulo 20 — "Querer é Poder?" - que: "Há muita gente que procura com afinco realizar seu 'querer', por este ou aquele meio, desprezando precisamente o processo seguro de êxito: o saber. Daí os fracassos, o desânimo, a descrença e o pessimismo de muitos".

E no final conclui: "Saber é poder, repetimos. Aquele que sabe, pode. Aquele que quer, e ignora a maneira de realizar seu 'querer', não pode coisa alguma". O que objetivamos é precisamente indicar a maneira de como realizar o combate aos nossos defeitos, superando os consciente e tranquilamente, com conhecimento de causa.

Vamos, nos próximos capítulos, analisar as características de cada um daqueles defeitos mais evidentes, na tentativa de melhor identificá-los nas ocasiões em que se manifestam em nós, em matizes e intensidades mais variados, aplicando sempre os meios que já vimos até aqui, para progressivamente transformá-los dentro de nós mesmos.


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