Sendo infinito em seus atributos, Deus deve tudo conhecer, o passado e o futuro, deve saber, no momento da criação de uma alma, se ela falirá, assaz gravemente, para ser condenada pela eternidade. Se não sabe, seu saber não é infinito, e então não é Deus. Se o sabe, cria voluntariamente um ser destinado, desde a sua formação, às torturas sem fim, e, então, não é bom. Aqui Deus pecaria pelo bem que deixaria de fazer ao criar tal alma. Ele, em Sua posição de superioridade intelectual e moral, não poderia se reservar ao dever de cumprir uma boa ação

tendo a oportunidade. Uma vez que reconhecemos tal atitude como uma falta se praticada por um homem, o que diríamos se praticada por Deus?

“A recompensa concedida aos bons, sendo eterna, deve ter por contrapartida, uma punição eterna. É justo proporcionar a punição à recompensa.”

Pensando assim misturamos extraordinariamente as coisas. Seria como chegar-se à conclusão que o diabo existe porque Deus existe. Onde está o bom-senso? Deus cria a alma tendo em vista torná-la feliz ou infeliz? Evidentemente, a felicidade da criatura deve ser o objetivo da sua

criação, de outro modo Deus não seria infinitamente bom. Ela alcança a felicidade por seu próprio mérito, pelo esforço que faz em se depurar moralmente; adquirindo o mérito, não pode perder-lhe o fruto, de outro modo degeneraria. A eternidade da felicidade é, pois, a conseqüência da sua imortalidade. Se uma alma culpada se arrepende, pode tornar-se boa; podendo tornar-se boa, pode aspirar à felicidade; Deus seria justo de, para isso, recusar-lhe os meios?

“O temor de um castigo eterno é um freio; se fosse tirado, o homem, não temendo nada mais, entregar-se-ia a todos os desregramentos.”

Esse raciocínio seria justo se a não eternidade das penas ocasionasse a supressão de toda sanção

penal. Por não ser eterno, o castigo não é menos penoso. Teme-se o castigo quanto mais nele se crê, e nele se crê quanto mais seja racional. A crença é um ato de entendimento, e, por isso, não pode ser imposta. Se, durante certo período da humanidade, o dogma da eternidade das penas pôde ser salutar, chega um momento onde se torna perigoso, uma vez que o homem chega a um

estado de compreensão da força moral; tal qual a criança que se contém, durante um tempo, pela ameaça de seres quiméricos, com a ajuda dos quais se assusta, mas, quando cresce, por si mesma faz

justiça aos contos com os quais foi embalada, sendo absurdo continuar vendo-os pelos mesmos meios.

“Tudo bem, mas e a Bíblia? As penas eternas estão lá descritas!”

Realmente se fala na Bíblia do “fogo eterno” em diversos versículos: Mateus, 18:8-9; Mateus, 25:41; Judas, 1:7; Mateus, 25:46; e outros. Por muito tempo o inferno fora pintado materialmente com tais características; seus caldeirões de fogo e rios de enxofre e as almas sendo jogadas nos mesmos. O homem evoluiu, percebeu a figuração das palavras da Bíblia e hoje já admite que o inferno não seja esse lugar restrito cheio de fogo para queimar as almas. É sim um estado de sofrimento do espírito, sendo que o fogo fora utilizado à época para designar o quão penosos seriam tais sofrimentos. Pois bem, uma parte hoje já tem seu sentido alegórico compreendido; falta ainda a outra. Mas se o fogo não deve ser tomado de forma literal, por quê deve assim ser considerado o eterno? Por eterno não podemos entender um período grande e/ou indeterminado de tempo? Sempre usamos palavras desse modo para passar uma idéia de forma mais efetiva, como quando dizemos: “esperei uma eternidade na fila do banco”. Por quê a dificuldade em se admitir que tal sentido fora empregado na Bíblia? Não é esse um dos livros mais ricos em alegorias da humanidade? Não temos vários versículos que usam o termo “de eternidade a eternidade” ou “de eternidade em eternidade” (I Crônicas, 16:36; I Crônicas, 29:10; Neemias, 9:5; Salmos, 41:13; Salmos, 90:2; Salmos, 103:17; Salmos, 106:48)? Ora, tomemos isso literalmente e nenhum sentido existirá.

As descobertas da ciência obrigaram o homem a buscar novas interpretações de várias passagens bíblicas, que tinham seu sentido tomado de forma literal. Aquele que continuasse a dizer que o Sol é que se movimenta em torno da Terra ficaria sozinho no estado ridículo de tal afirmação atualmente.

Os “problemas” começaram quando o homem descobriu, de forma científica, que a Terra é que girava em torno do Sol; que o planeta não fora criado do nada em seis dias e há apenas alguns poucos milhares de anos atrás; que seria impossível toda a humanidade ter surgido tão somente a partir de Adão e Eva, e ainda, ressurgido depois do dilúvio em um período de cerca de 600 anos, já constituindo-se a civilização egípcia e tendo sido povoados os grandes continentes até então conhecidos.

Pergunta-se: com isso o homem negou a Bíblia? Não, de forma alguma. Ele buscou o verdadeiro sentido de certas passagens, admitindo o seu erro nas interpretações anteriores que fazia da mesma.

Comparemos a idéia que se tinha de Deus à época do antigo testamento - um Deus carrasco, que se arrepende das coisas que fez (Gênesis, 6:6-7; Êxodo, 32:14; Jonas, 3:10; I Samuel, 15:35), que luta com Jacó e perde (Gênesis, 32:28-30) - com a que temos hoje e veremos quanta diferença; não porque Deus mudou, pois sendo perfeito é imutável; mas sim o homem evoluiu em seu entendimento, devendo, aliás, muito disso a Jesus Cristo.

As idéias seguem um curso incessantemente progressivo; não se pode governar os homens senão seguindo esse curso; querer detê-lo ou fazê-lo retroceder, ou simplesmente permanecer atrasado, quando ele avança, é perder-se. Seguir ou não seguir esse movimento é uma questão de vida ou morte, para as religiões assim como para os governantes. Contra as leis de Deus, toda resistência é inútil; lutar contra a Sua vontade é querer se destruir.

A maior parte deste texto foi extraída do livro O Céu e o Inferno.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amigos. O livro "Apelos do Tempo", um estudo sobre a obra "O Livro dos Espíritos" está em fase final de revisão. Para revê-la o escritor Luiz Gonzaga Pinheiro uniu-se ao Grupo de Aprofundamento Doutrinário Leon Denis, composto por uma equipe multidisciplinar, a fim de detectar possíveis falhas em sua elaboração.
Este é um livro para quem realmente ama o Espiritismo. A obra estuda e detalha Kardec em seu contexto no século XIX, uma época cheia de preconceitos e de ciência ainda não avançada. Seu objetivo é a chamar a atenção para a atualização do Espiritismo em seus aspectos, científico e filosófico, procedimento aconselhado pelo próprio Kardec.
Todos na equipe são unânimes em afirmar que tal estudo leva a confirmação de que Kardec era muito mais sábio, honesto e coerente do que muitos supõem. Um cientista de vanguarda, homem íntegro e amante da ciência.
Faça o download no blogger “Desafio Espírita” ou “Apelos do tempo” e divulgue esta idéia.
Aoficina está linda! Parabens!
Continue assim na divulgação do Espiritismo.

Anônimo disse...

Não podemos confundir a vontade positiva, com a permissiva de Deus, o íntimo desejo dEle, é que todos os homens herdem o céu, entretanto há o livre arbítrio, onde é possível se escolher o que será da eternidade. Seria Deus um Ser injusto se tivesse pego alguém de surpresa ao passar para a eternidade, e somente então passasse a ter o pleno conhecimento dos fatos, uma situação absolutamente contraditória ao que Ele tem feito, aliás com muita paciência, porque talvez se fosse eu não daria tantas oportunidades, mas Ele o faz e o faz, por amor Todas as condenações de pessoas registradas na bíblia, foram pessoas que livremente assim o provocaram, ao ignorar os ensinamentos e alertas que Ele dera antes.
O próprio Lúcifer existe e tornou-se inimigo ferrenho livre e espontaneamente, Deus assim não o fez, mas a partir de sua decisão passou a assumir as conseqüências ou punição pelo seu grave erro, aliás punição é largamente ensinado na bíblia, e não adianta mascararmos a verdade ou criarmos uma meia-verdade. Aquilo que o homem semear, isto também ceifará. (Gl 6:7), observemos que esta posto o caminho e nós é quem decidimos qual seguiremos, Ele mostra qual o que Ele deseja, e nós decidimos, é como se alguém nos encontrasse a beira de um abismo e nos alertasse, esta pessoa dessem-nos provas inequívocas, mas persistimos no erro e se viermos a cair nele, teremos que assumir as nossas próprias atitudes.
Mas, se você está lendo isto, é porque para você ainda há solução:
Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Hb. 7:25.
Vinde então, e argüi-me , diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Isa. 1:18.
“E os teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele; quando vos desviardes para a direita ou para a esquerda.” Isa 30:21